Tag Archive: Poesia



“Serpente, pára;

Pára, serpente,

 A fim de que minha irmã

Copie as cores com que te enfeitas;

A fim de que eu faça um colar

Para dar a meu amante; que tua beleza e tua elegância

Sejam sempre preferidas

Entre as demais serpentes.”

 

Canção indígena transcrita por Montaigne

foto : site olhares

 


Éramos duas crianças

Aprendendo a ver imagens

E a ouvir sons.

 

Escandíamos as mais simples sílabas

Em malabarismos de linguagem.

 

Recebíamos com espanto

A luz dos raios catódicos

Do fundo da tela de cristal:

Puxa o fio da boca com os dedos,

Sua risada ressoa redonda,

Grande de dentes.

 

Aí , veio o bicho-papão

E tirou nosso ar.

: – (

DESCONECTANDO, POEMA DE

(E.a.Buzzo)


Tudo em vermelho…
E tudo se tornou vermelho. E ele pensava que a raiva se vestia de vermelho e tudo mais. 

“Cobiçava conhecer mais palavras para nomear o incômodo perpétuo instalado pela dor.”

“Neste livro, eu trabalho a questão da memória”, disse delicadamente o mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, no lançamento de seu “Vermelho Amargo”, em abril do ano passado. “Na memória está o vivido e o sonhado. Portanto, toda memória é ficcional”. Continue lendo


adiar o dia de sair do mar

se enturmar com o mar

sem querer domar o mar

ser do mar

fazer com que o mar

em ser espelho olhe-se

no acordo do céu

sem horizontes nem limites

aceitar o mar

em sendo mar se torne léu

sereia e todo ser

que se molha que se olha

em cada pele cada prole Continue lendo


Meio – dia de domingo .
Persianas baixadas.
No apartamento de Copacabana ,
protegidos pelas persianas,
amantes de uma noite
abrem os seus olhos pesados.
Vestígios de uma madrugada
densa de gozos e gemidos
do sexo inesperado
achado e comprado
no calçadão da avenida Atlântica .

Poema de Luis Maria Acunã


FELICIDADE

“Um homem feliz não escreve romance”

Carlos Heitor Cony

Estarei deixando de ser feliz

para escrever poemas?

Para escrever poemas,

serei feliz como antes, circunstancialmente,

serei infeliz como um dia ou outro, outrora.

Serei infeliz como verdadeiramente os infelizes. Continue lendo


“Orgulhosa” (cujo título correto é “A Orgulhosa”) sempre creditado a Castro Alves é de Trasíbulo Ferraz Moreira, nascido em 28 de janeiro de 1870, em Lençóis, na Chapada Diamantina, era filho do tenente Espiridião Ferraz Moreira e de d. Maria Amélia F. Moreira.

 Orgulhosa

Num Baile

Ainda há pouco pedi-te, 
Pedi-te para valsar… 
Disseste – és pobre, és plebeu; 
Não me quiseste aceitar! 
No entretanto ignoras 
Que aquele a quem tanto adoras, 
Que te conquista e seduz, 
Embora seja da “nata”, 
É plena figura chata, 
É fósforo que não dá luz!

Com a sua morte, seus amigos tiveram a iniciativa de reunir alguns de seus versos numa coletânea sob o título de Poesias, com o prefácio de Evangelista Pereira, em edição de uma gráfica da cidade de Amargosa, no interior do Estado, em 1900. De sua autoria é, ainda, o volume de contos Poliformes (1896).  poeta Trasíbulo Ferraz.

Não há fotos do autor, infelizmente.

Confira agora, todo o poema : Continue lendo


(…) A poesia me leva a perdidos caminhos

de onde volto mais só,mais desesperançado.

De tudo resta apenas a página rabiscada.

Deixo cair da mão o verso que se parte.

Outro me foge escrito sem palavras,

buscando outros sentidos…

O verso é feito do ar que se respira

Correi, correi,ó versos sem palavras…

Dante Milano in “Passagem da Poesia”


Não eram muitos os que passavam dos trinta.

A velhice era privilégio das pedras e das árvores.

A infância durava tanto quanto a dos filhotes dos lobos.

Era preciso se apressar, dar conta da vida antes que o sol se pusesse, antes que a primeira neve caísse. Continue lendo


No caminho com Maiakóvski

“[…]

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

[…]”

Fragmento do poema de Eduardo Alves da Costa que não é de Maiakóvski, mas teria parentesco com Martin Niemöller, um pastor luterano, mas é de Eduardo Alves da Costa. O poeta  garante que  Maiakóvski nada tem a ver com o tema. Continue lendo