Tarde da noite,Robin deitado numa confortável cama de casal, num dos quartos da Mansão Wayne em Hollywood, toda decorada com Super-heróis.Veste apenas a máscara e uma ridícula mini-cueca com morceguinhos cor-de-rosa. O quarto está na penumbra. Na vitrola toca “Batdance” do Prince.

De repente, fazendo o maior barulho, acendendo todas as luzes, entra Batman abatido,roupa amassada com rasgões nos ombros,com sangue seco no nariz e canto da boca.

Robin : – Santa madrugada Batman,isso são horas de chegar em casa?

Batman: – Credo, tira esta prostituta sudanesa dai, põe um disco da Gal,ai, eu adoro a Gal.

Robin: – Você sabe que não suporto esta perua brasileira.Mas não muda de assunto.Onde você esteve sua bat-galinha? Posso apostar que estava outra vez com o Coringa.Você não pensa um pouco em mim? Me deixa aqui sozinho nessa mansão enorme e fica por aí galinhando pelas ruas de Gothan City. Bem que mamãe me disse para aceitar o convite eir trabalhar com o Capitão América.

– Batman (coloca um disco da Gal): Você? Simplesmente ridículo, todo fantasiado de bandeira,andando com aquele escudo para cima e para baixo. Coisa mais pobre! Sou mais ligada no Thor. Ele com aqueles cabelos longos,dourados,musculoso. Com aquele imenso martelo cheio de poder,é a glória. Você já pensou, ele de salto alto, ficaria lindérrima.

(Gal: “Onde a gente vai tem uns amigos que você precisa visitar…”)

Batman (tirando a máscara frente ao espelho) : Tô um caco! Não suporto mais essa vida de combatente de crimes..Queria ser amada e não ficar por aí batendo na cara dos bofes.

– Robin : Santa choradeira…E eu? Também quero ser amado.Você não pensa um pouco em mim? Também já não suporto mais ver você chegando em casa de madrugada, sujo com sangue, um trapo velho.Isto não é vida para mim. Vou voltar para casa da mamãe e não adiante me buscar, nem mandar flores, agora chega!

– Batman (fala olhando no espelho) : Esses garotos prodígios… Não te esqueças que te ensinei tudo bofete, tudo, e agora vem com ofensas, não é? Que injustiça. Oh destino cruel e insano, oh vida bandida e ingrata. Eu nunca deveria ter virado homem morcego. Olhe bem para mim: não pareço um guarda-chuva velho? E ainda tenho que suportar criança me enchendo o saco. Queria viver, viver, ouviu? Ser a mulher maravilha, tá legal?

– Robin : Santa Frescura Batman, mulher maravilha? Você tem é que ser forte, durão.

– Batman (puxando os cabelos):  Mas não quero, não quero. Esse corpo só quer ser acariciado. Porque não virei uma borboleta? Uma esbelta butterfly-man, toda colorida, alegre, delicada. Eu to morta. Pode sumir daqui se quiser, sei quando sou rejeitada.

– Robin: Santa Desilusão Batman. É assim que você me trata? Depois de tudo o que fiz por você, seu morcegão bofe! Vou embora mesmo. Pode ficar com esta droga de bat-anel que ganhei no ano passado, com este vibrador de três velocidades, que aliás quase me matou eletrocutado, e pode ficar com esse horroroso bat-baby-doll e pode ficar com este morcego pelúcia que te dei no nosso noivado. Pode ficar com tudo. Vou embora desta mansão sombria e escura.

– Batman (berrando): Ah é? Ah é? Tá boa santa! Você não vai ver bat-lágrimas nos meus olhos, não mesmo. Estou cansada de você, do Comissário Gordon, de ser combatente, de tudo. Some daqui, seu ingrato.

– Robin : Santa Sacanagem, eu jamais esperava isso de você.

(Gal : ” …Desta vez doeu demaaaaaisss…)

– Batman: E pára de falar santa toda hora, odeio ser Santa. O-D-E-I-O. Sou uma mulher do povo, oh que vida, uma mulher jovem ainda.

– Robin: Santa Viadagem, mulher?

– Batman (urrando): É, mulher, mulher morcego.

– Robin (gritando) : Santíssima Bicha! Agora é demais, vou embora.

– Batman(berrando): Vai, o que está esperando? Some da minha vida boy-prodígio, não vai me fazer falta. Garotos como você acho às dúzias no Morcegay.

Robin : Santa Nojeira, Batman, você frequentando o Morcegay? Que decadência!(Entra Alfredo, o mordomo de Batman)

– Alfredo : Por favor rapazes, parem com essa gritaria, toda vizinhança vão pensar o quê?

– Batman (furioso) : Olha a audácia dela. Oras, conheço você desde os tempos que colecionava posters do Super-Man. não vem com este papo moralista pra cima de mim não, sua velha solteirona. Conheço seu passado, sei que ia vestido de mulher-gato no Gala-Gay, sua… sua recalcada.

– Alfredo : Patrão, por favor, fale mais baixo.

– Robin: Santa Raiva, Batman…

– Batman : Sai daqui Robin e pode levar sua tia velha junto.

– Alfredo : Tia velha é a pu… quer dizer, acalme-se patrãozinho. Relaxe, os vizinhos estão ouvindo.

– Robin : Santa Decadência Alfredo, Isso sempre acontece nas noites de lua cheia. A bicha fica impossível, histérica. Vou cair fora desta droga de mansão.

– Alfredo: Patrão,não grite assim, todo mundo vai saber que você e o Batman são a mesma pessoa.

– Batman: E daí? Que importa? Sou assumido, entendeu?

– Robin (chorando) : Santa besteira.

– Batman: Senta onde querido?

– Robin: Santa surdez, não é senta, é Santa. Alfredo, faça ele se acalmar.

– Alfredo : patrão, deite aí na bat-cama.

– Batman(pulando, gritando…) : Mas eu não quero deitar. Eu quero ser a Gal(abraça a capa do disco) quero ser você perua-man.

– Robin : Santa Frustração Batman, para com isso. Olha, eu não vou mais embora, fique calmo, amor.

– Batman : Não! Está tudo acabado, tudo. Suma da minha frente bat-ingrato e leva esta bat-tia junto, suas horrorosas, nojentas. Vida ingrata. Quero morrer… morrer. Nunca mais serei o mesmo, chega de ser Batman. Cansei de andar por aí disfarçado de macho pelas ruas de Gothan, acabou, tudo, tudo.

 Robin (abraçando Batman): Santa Recaída. Vem pra cama, vem amor. Eu perdôo tudo. Deite aqui, assim.

– Alfredo: Vai com ele patrão. A sociedade jamais nos entenderá, é a vida.

_ Batman (chorando, sendo levado pra cama por Robin) : Maldito bat-Kane! Ele podia me transformar numa borboleta linda, toda azul e dourada.

– Robin (deitando  Batman na cama, fazendo carinhos em seus cabelos): Durma querido. Amanhã será outro dia. O He-man vem nos visitar.

– Alfredo : Durma patrão, boa noite.

– Batman : Vira o disco da Gal.

(Gal : “Amanhã será jamais!…”)

Robin vira o disco, apaga as luzes. Gal continua cantando solitária. A cena caba na manhã seguinte com o Coringa invadindo o quarto da mansão, surpreendendo o bat-casal em sua intimidade.

The End

 Texto de João Renato Scóz